quarta-feira, 18 de março de 2009

OPINIÃO 95-96 - Le 14 Julliet

Sr Director (PÚBLICO):

No passado domingo comemorou-se mais um catorze Juillet, o dia da tomada da Bastilha.

As cerimónias tiveram o brilho habitual, este ano com a presença de Nelson Mandela em tournée para recolha de apoios para o seu país, e não faltou até um desfile das forças armadas mostrando a sua prontidão combativa atestando que estão aptas (e ansiosas...) para defender a grandeur de la France!

Só que este desfile bélico, a que a nossa comunicação social deu grande destaque (e que também apanhei em dois canais da parabólica), me parece um tanto deslocado quando se trata de comemorar a tomada da Bastilha. Nesta circunstância, o grande destaque deveria ser dado aos cidadãos que fizeram a Revolução Francesa, e que ao longo da história fizeram a grandeza da França.

E esta grandeza é conferida pela cultura, nas artes, nas ciências, na política, e não pelos feitos das Forças Armadas. As façanhas guerreiras são importantes e foram-no, de facto, em épocas mais recuadas quando as fronteiras não estavam estabilizadas, os diferendos entre vizinhos eram dirimidos pela força.

De resto, o que as Forças Armadas deram à França não foram páginas particularmente brilhantes:


  1. Napoleão andou a guerrear a Europa de ocidente a oriente, para acabar em Santa Helena derrotado (e com a França exaurida).

  2. De 1870 até à Segunda Grande Guerra, os confrontos com a Alemanha só em 1918 deixaram de se saldar com derrotas estrondosas dos exércitos franceses.

  3. Mais perto dos nossos dias, as aventuras na Indochina e na Argélia, deixaram as Forças Armadas francesas derrotadas e divididas, com os rebeldes da OAS a destilar queixas, típicas nestes casos, de que o exército fora traído pelos políticos...

Assim, colocar as Forças Armadas no centro das comemorações do dia da França, em que se comemora a tomada da Bastilha, é, no mínimo descabido.

Bem andava Georges Brassens ao cantar [Mauvaise réputation]:

Le jour du catorze Juillet je reste dans mon lit douillet
La musique qui marche au pas, cela ne me regarde pas...

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